quinta-feira, abril 06, 2006

Ainda, e uma vez mais sobre a OPA

Até há dois meses atrás OPA era um acrónimo esquisito (ou não o fossemtodos os acrónimos) que não tirava o sono a ninguém. E para quem lida comempresas cotadas em bolsa, a OPA é um instrumento dos mercados financeiros pordemais bem conhecido nada devendo ao esoterismo. Mesmo aquelas OPAS que encerremem si alguma ou total hostilidade; também o factor surpresa nada tem desurpreendente porque, precisamente uma das características das OPAS, e sobretudo das hostis, é que devem ser feitas de surpresa evitando que a empresa alvo se defenda antes do tempo e que o mercado de capitais funcione baseado em rumores (como se bastas vezes assim não funcionasse. Lá diz o ditado: "compre no rumor, venda no facto").

Então, se tudo está escrito e é tão visível, a que se deve o bru-á-á em torno da OPA da Sonae sobre a PT? Razões haverá e, em minha opinião, algumas das mais evidentes serão:
- de, o país - o cidadão comum - desconhecer o que é uma OPA. Pura esimplesmente, desconhecia o que é isso de alguém "descaradamente" dizer: eu compro-te;
- de, um pequeno tentar engolir um grande contrariando a história dos três peixes de Brecht em que neste mundo os médios comem os pequenos e os grandes comem os médios já com os pequenos na barriga;
- de, o pequeno afirmar ao mercado e ao mundo que os gestores da maior empresa portuguesa não a gerem como deve ser;
- de, acontecer em período de vacas muito magras para os portugueses e as empresas (incluindo as de telecomunicações, salvo talvez a OPTIMUS, as de hipermercados e centros comerciais) apresentarem lucros astronómicos que ainda por cima servem para justificar porque é que compram e porque é que não devem ser compradas;
- de, provocar instabilidade laboral nas empresas, quer na atacante (que não pensem os trabalhadores da Sonae.com estar a salvo), quer na empresa alvo;
- de, o facto de lançar uma OPA sobre a PT ser quase lançar uma OPA sobre o sector das telecomunicações em Portugal. Desse o devido desconto ao exagero desta última afirmação, mas quem lançou a OPA não a deve intimamente considerar um exagero assim tão grande.

E o último ponto é o busílis da questão. Porque sobre accionistas (exceptuando o Estado) passados, presentes e futuros, é irrelevante falar. São accionistas e serão accionistas enquanto isso lhes interessar. É até difícil distinguir (a mim, mas por dificuldade própria) um accionista estrangeiro de um accionista português. Poderemos ter mais simpatia pelo estilo glamour e aristocrático do eixo Lisboa-Cascais, ou pela história devida (com que a maior parte de nós sonha) de nascer em berço humilde (isto não sonhamos) e de nos alcandroarmos aos píncaros da fama e da fortuna (esta é parte com que sonhamos) em meia-geração, mas tal, é de somenos importância para o futuro do país.

- O Estado e a OPA -

Então que palavra ao accionista Estado em matéria de OPA sobre a PT? Poderá o Estado, independentemente de quem sejam os seus parceiros accionistas, deixar de intervir na PT?

A OPA da SONAE sobre a PT veio apenas dar mais realce a uma questão recorrente (que a OPA, por si só, não responde nem resolve) e que reside em esclarecer definitivamente que papel quer o Estado/Governo desempenhar no sector das Telcos e em que medida a Portugal Telecom é um instrumento de relevância para a estratégia de desenvolvimento do país.

Se considerarmos que para um país, não existem empresas estratégicas, mas que existem, isso sim, sectores estratégicos - como a educação/formação, a saúde, a água, o ambiente, a energia, as comunicações - então o Estado/Governo deveria remeter-se a uma posição de mero accionista. Mas...não esquecer que inicialmente "manipulámos" a argumentação e considerámos a OPA sobre a PT "quase uma OPA sobre o sector dastelecomunicações" e que o Governo já declarou como estratégico o Sector das Tecnologias da Informação e tem um Plano para desenvolvimento do país baseado neste sector. Então, o caso muda de figura.
Além disso, empresas há que são um instrumento fulcral da prossecução de uma política definida para um sector estratégico. Ou haverá alguma dúvida que nos EUA as empresas do armamento e da "conquista" do espaço nos EUA (sectores estratégicos para este país) não são "direccionadas"?
Apenas dois exemplos do passado demonstrativos que a PT não é um empresa como outra qualquer cotada em Bolsa e que as suas competências e capacidades extravasam a mera busca de remuneração accionista: o pólo universitário de Aveiro, centro de formação de gabarito e excelência em áreas tecnológicas, nasceu devido à existência nesta cidade do Centro de Estudos de Telecomunicações, hoje PT-Inovação; a PT já promoveu e abriu portas a mais empresas portuguesas do que muitas campanhas do ICEP ou embaixadas presidenciais.

Se gostaríamos de ver mais clara, por parte do Governo, a política para o sector e para a PT, neste momento muito mais não poderá ser adiantado porque a OPA condiciona certas declarações. E, diga-se em abono da verdade que em matéria de OPA o Estado/Governo tem mantido um posicionamento de louvar (olvidando algumas interpretações de que a recente designada Administração da PT poderá indiciar alguns alinhamentos e vícios passados). No entanto,
- o Governo não se poderá deixar ofuscar pelas movimentações bolsistas resultantes da OPA considerando-as um sinal do arranque (que inequivocamente existe) da economia;
- o Governo deverá providenciar um equilíbrio entre a defesa dos interesses nacionais e a liberdade de funcionamento do mercado sem deixar de olhar a PT como um instrumento fundamental de um sector considerado estratégico capaz, de com OPA ou sem ela, ser um dos pilares de uma economia sustentada.
- O Estado/Governo não se poderá deixar menorizar no seu papel de accionistada PT e ter o papel interventivo que lhe compete na gestão das empresas do Grupo PT sem medo de ser acusado de prejudicar a economia de mercado. Ou serão menos lesivas as acusações mútuas de má gestão imputada a putativos comprados e de falta de experiência e de resultados em gerir empresas de telecomunicações assacada a putativos compradores?

5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Excelente iniciativa. Estão de parabéns.
E muitos poarabéns por este excelente texto.
Espero por mais.
Um abraço amigo
Zé Manél

10:39 da tarde  
Blogger Paulo Coelho Vaz said...

Realmente tb gostei do texto. Fico à espera de mais.
Parabéns.

1:22 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

De facto a OPA da SONAE é também uma consequência da gestão da actual administração da PT que não teve visão nem estratégia, para além da política de share-buy-back para engrossar a retribuição accionista, pagamento de favores a "amigos" das Consultoras donde também vieram, de molde a controlarem totalmente a gestão e os negócios, bem como a comissários políticos preponderantemente do PSD, cujo último exemplo foi a nomeação do Dr. Salter Cid para PCA da PT ACS, sabendo-se que nunca exerceu quaisquer funções no Grupo desde que entrou para a Marconi há cerca de 15 anos... Isto para não mencionar dois presidentes de câmara do PSD que não podem acumular vencimento nas empresas municipais mas a quem a actual administração decidiu recompensar nomeando-os adm não executivos em duas das principais empresas do Grupo PT. E que faz o accionista Estado/governo de José Sócrates/Mário Lino? Opta pela 4ª via, ultrapassando Tony Blair: discursa bem para o pagode mas no "back office" anda de braço dado com os banqueiros do BES e do BCP, protege o amigo Henrique Granadeiro e para não ir descompensado junta-lhe o Rui Pedro, antes um soarista convicto desde a JS, mas que não hesitou em "morder" o padrinho quando se apercebeu que o cavalo ganhador seria o actual secretário-geral do PS e primeiro ministro. Experiência e curriculum profissional para quê? O que é fundamental é pertencer ao "circle in do primeiro" e ao lobby do BES. As dezenas de milhares de pessoas que dependem da PT pouco lhes importam. Os interesses dos clientes são demagogicamente invocados com o doce "de maior concorrência melhores preços", mas na realidade é que serão estes, os trabalhadores do sector e a redução dos impostos cobrados pelo Estado que, no futuro, com o sucesso da OPA da SONAE ou de outra qualquer ou se se mantiver a actual gestão da PT, irão custear estas aventuras político-financeiras do governo "centro socialista democrata" da 4ª via socrática, em associação com o capital "portunhol" ou outro qualquer. Em boa hora pois apareceu este Blogg que nos permitirá opinar livremente e denunciar as tropelias desta rapaziada! Bem hajam,força e coragem é que é preciso!

3:39 da manhã  
Blogger Clube de Reflexão Roma said...

Caro anonimo
Ficámos muito satisafeitos com a sua participação.
Unicamente sugerimos que de modo a manter uma sequência no nosso relacionamento arranje uma alcunha (a juventude agora chamma-lhe nick...) e passe a colocar os seus comentários com essa alcunha.
Caso tenha alguma dificuldade pode sempre enviar um e-mail para clube.reflexao.roma@sapo.pt.

8:43 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Fico deveras entusiasmado com esta iniciativa do vosso Clube.

É preciso abanar as estruturas fundearias do capitalismo/fascista em Portugal. A PT é uma empresa de Portugal, para Portugal e para o mundo. Não pode estar nas mãos de estrangeiros nem de especuladores, sejam eles estrangeiros ou não.

Viva as empresas portuguesas.
Viva os centros de decisão portugueses.
Viva os bons gestores portugueses, sejam eles nomeados pelo estado ou até mesmo por privados (coisa que estes senhores que estiveram à frente da PT e agora se mantêm não são de todo, nem nunca).
Viva o estado português.
Viva Portugal!!!

Francisco José

11:25 da tarde  

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